Marcado: melancolia

O que resta para nós?

O que resta para nós os comuns?
Sem grandes feitos ou lápides garantidas, sem lágrimas caídas no olho de alguém, esquecidos na semana seguinte e desaparecidos no tempo.

O que resta para nós, coadjuvantes da vida?
Sem carimbos ou mesmo passaporte, sem lances de azar ou sorte, sem grandes feitos ou tragédias para contar em um suposto livro de memórias.

O que resta para nós, os sem talento?
Sem elogios de faces conhecidas, redimidas por prêmios ou referenciadas por grandes descobertas que mudam a vida da humanidade. Sem estátuas para colocar na estante, fotos relevantes de alguém que renda os olhos arregalados.

O que resta para nós, carimbadores de contas de consumo?
Passamos, como papel molhado que escorre pela sarjeta de uma rua que ninguém conheceu e que não se tornou digna de turismo em qualquer cidade turística, onde até os cães são atrativos para essa gente.

Nada, absolutamente nada resta a quem não tem o que ganhar ou perder, aos que se empoleiram e se sacodem apenas para acordar depois de amanhã. Eu, você, a maioria de nós não deixa pegadas, ossadas, porque iguais a nós há tantos e tantos outros a esperar o tempo passar, enquanto a dor, o álcool e o câncer decompõem a nossa alma.

O que temos para hoje no menu é o que temos todos os dias. O mesmo gosto, a mesma textura, a mesma tristeza sem fundura e largura.

Se serve de consolo, já é tarde demais.